No mês passado, em uma visita à minha cidade natal, consegui registrar um evento que eu sempre gostei muito: uma típica Festa de Colônia do interior italiano da Serra Gaúcha. Desde quando comecei a fazer esse blog sempre tive a vontade de registrar e mostrar aqui um pouco desses eventos do interior, que fazem parte da minha infância e da história da minha família.
A festa que participei foi a de Santa Ana, em Torino, uma comunidade que fica no interior de Carlos Barbosa, minha cidade natal. Um almoço para mais ou menos 400 pessoas, no salão paroquial, que fica em frente à igreja da localidade de Torino. No interior da Serra Gaúcha esse tipo de festa é muito comum, e acontece quase todo final de semana, em algum dos inúmeros salões espalhados nas comunidades ao redor das “grandes” cidades – como Farroupilha, Carlos Barbosa, Garibaldi e Bento Gonçalves – todas com colonização italiana.
Essa região onde nasci e cresci foi colonizada 100% por italianos. Até hoje as nossas tradições, costumes e culinária italianas são muito fortes. Meus avós (meus nonnos) falavam italiano dentro de casa, um italiano antigo chamado Dialeto Vêneto, que veio junto com os seus antepassados, uns 150 anos atrás.
Por isso a culinária da Serra Gaúcha mistura o churrasco do gaúcho com a comida dos imigrantes italianos. Por isso nunca falta massa, com molho ou na sopa, pão e vinho tinto. E um almoço de colônia mistura isso tudo. Sopa, carne lessa, pien, massa, maionese e churrasco. A comida mais típica da minha região.
Essa foi a primeira vez que participei de perto do “backstage”, nunca tinha entrado na cozinha. E como já imaginava, foi um espetáculo. Panelas gigantes, grandes quantidades, como era de se esperar. O mais impressionante foi ser recepcionado por uma mesa coberta por uma verdadeira montanha de maionese de batatas (80kg de batatas e maionese com 160 ovos), tudo sendo misturado com a mão. Só essa cena, para mim, já valeu a visita.
Os homens cuidam do churrasco e as mulheres de todo o resto. Na minha opinião elas são as protagonistas da festa. Fazem tudo praticamente do zero, chegando na cozinha antes das 6 da manhã, para deixar tudo pronto para o almoço. Quem comanda a cozinha é Dona Ivone. Com mais de 30 anos de cozinha, ela caminha de lá pra cá atenta a tudo mas sempre com um sorriso no rosto. O retrato típico de uma mulher italiana na cozinha, firme e alegre ao mesmo tempo.
Escapei algumas vezes da cozinha para sentar com minha família e comer os pratos que saíam de lá. Já era apaixonado pela comida, mas esse dia teve um sabor especial. Provavelmente vai continuar tendo pra sempre, agora que sei como é feito. Diferente de restaurantes onde dizem que ver como se faz te faz perder a fome, ver essas mulheres na cozinha só aumenta a fome pelo jeito como elas cozinham com toda a dedicação e cuidado à cada coisa. Mesmo na correria de servir e montar quase 100 porções de cada prato em minutos elas não perdem a calma e nada sai errado.
O cardápio
Sopa de Arroz com Frango: cozida em um caldo feito com vários pedaços de carne de vaca e frangos inteiros, que depois são desfiados e voltam para a sopa. A sopa mais típica é a de Capeletti (ou Agnoline), mas essa já tinha sido a sopa da última festa, então acontece esse rodízio de sabores.
Pien ou Recheio: o mesmo recheio que vai dentro dos capelettis, uma mistura de frango cozido, pão adormecido, ovos e queijo ralado. Tudo isso moído vira uma massa, que é cozida em pacotes de papel alumínio. Minha comida favorita de toda a culinária da serra! E que eu ainda vou aprender a fazer para passar a receita.
Maionese: para esse dia foram 80kg de batata e 160 ovos para a maionese. E a proporção para a maionese é um ovo cru para cada dois ovos cozidos.
Salada: tomate, alface e repolho, temperada com vinagre de vinho tinto, produção da região.
Massa com Molho de Guisado: é o molho bolonhesa da região com spaghetti caseiro. O molho fica horas cozinhando com uma tonelada de temperos e mais uma bela porção de manteiga caseira.
Churrasco: vaca, porco e galeto. Para esse dia foram mais de 200kg de carne no total, e não sei quantas dezenas de espetos.
Sagu com Creme: sagu cozido no vinho tinto com um creme à base de leite e creme de leite, que foi um dos mais deliciosos que eu já comi. Doce e consistente, na medida exata. Peguei a receita e se eu conseguir fazer direito posto aqui um dia.
Dona Ivone, a cozinheira chefe
Manteiga caseira indo para o molho
Pien
18 de agosto de 2014 at 17:26
muito boa a matéria. Também faço parte de uma destas comunidades(São Silvestre L12) é muito lindo e a comida 10.